Neste artigo, Rossano Cabral Lima aborda três pontos que mostram como a descontextualização dos diagnósticos, o desprezo pela história de vida dos sujeitos, a desvalorização da psicopatologia na primeira pessoa e a desconsideração de outros saberes e vocabulários possuem uma dimensão política, além de terem impacto epistemológico e clínico. O primeiro tópico, segundo o autor, seria a relação entre DSM e políticas de saúde mental. Para Lima, escapar da agenda do DSM não significa desconhecer as categorias diagnósticas, mas não consentir que a formação, os serviços e a rede de atenção psicossocial sejam organizados em torno de tais diagnósticos, combatendo, assim, a lógica excludente presente no discurso disfarçado da lógica conservadora. O segundo ponto seria a relação entre DSM e infância. Para ele, a falta de voz política presente na infância deixa a criança mais vulnerável à medicalização, como também, o fato de que os pais passaram a delegar suas autoridades aos especialistas refutando, dessa maneira, teorias que atribuíam a eles a origem de todas as patologias dos filhos avalizando, portanto, hipóteses biológicas. O terceiro ponto seria a relação entre DSM e a política no campo da linguagem. Para o autor, quando o manual da Associação de Psiquiatria Americana (APA) impõe “democraticamente” um único, correto, verdadeiro e científico modo de descrever os processos de adoecimento mental também tem como objetivo reduzir a língua psiquiátrica a sua expressão mais simples, no movimento de “remedicalização da psiquiatria”. Teorias que são consideradas fora do campo biomédico e seu vocabulário a ele associado não seriam bem-vindas.
Publicado em maio de 2021.