Fonte: site do Tekoa (2007)
O que nos impulsionou a reeditar o presente artigo, publicado em 2007 no site do Tekoa, é a incrível atualidade das reflexões nele inseridas.
No texto, Maria Luiza Leão e Anne Marie Bouyer analisam o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade sob a ótica da psicopedagogia, que prioriza a saúde em detrimento da doença: problemas de aprendizagem são analisados à luz das possibilidades e limitações, apostando-se nas primeiras. O caminho da psicopedagogia não é definir o sujeito a partir de um transtorno, mas o de abrir as portas para que ele vislumbre caminhos partindo de suas próprias ferramentas. É preciso haver um vínculo humano para o que o sujeito aprenda. Não aprendemos com o cérebro. É o sujeito que aprende.
Tal reflexão é apoiada em determinado trecho da dissertação de mestrado (2004) do psiquiatra infantil Rossano Cabral Lima (agora Doutor em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da UERJ) intitulada “A Construção Contemporânea de Bioidentidades – Um estudo sobre o transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDA/H)” e no artigo, do mesmo autor, “TDA/H: uma “epidemia” em curso?” , publicado no I Encontro do Fórum de Psiquiatria e Saúde Mental em 16 de outubro de 2006.
A síndrome TDAH é caracterizada por comportamento hiperativo e inquietude motora, desatenção marcante, impulsividade e falta de envolvimento persistente nas tarefas (Fontes: APA e DSM-IV). Desde o seu surgimento no século XX, até os dias atuais, sofreu inúmeras alterações em sua nomenclatura e passou a incluir adultos entre seus portadores; a abrangência do diagnóstico foi ampliada. Atualmente está associada ao uso da Ritalina (cloridrato de metilfenidato). Pesquisas realizadas entre 1990/98 revelam que sua prescrição tem se tornado um problema de saúde pública, principalmente nos Estados Unidos, onde a produção aumentou 700%, (dados de 2004) quando quase quatro milhões – mormente crianças – usavam o fármaco. No Brasil os números saltaram de 16,4 para 65,2 mil unidades (em 2004). Dados que precisam ser atualizados.
Entretanto, não há provas concretas que respaldem um diagnóstico. Este se dá através de respostas a um questionário.
Nesta publicação, observamos que determinadas condutas precisam ser contextualizadas: há pessoas atentas, menos atentas, muito atentas, pouquíssimo atentas (…) a atenção destoante pode estar ligada a diversas causas, podendo ou não remeter a causas fisiológicas. Vivemos de forma acelerada, num ritmo de produção alucinado. É preciso distanciar nosso olhar da fisiologia cerebral e focar na cultura contemporânea em que estamos inseridos.
O artigo aponta que certos indivíduos procuram ancorar sua identidade e/ou a de sua prole nos referenciais corporais ou biológicos, visto que os referenciais tradicionais antes empregados para extrair as matérias-primas de sua identidade como religião, ideologia e família, de um modo geral, perderam força. Com isso o corpo se tornou uma das únicas fontes de certeza e estabilidade. Tal ascensão reforça a decadência da interioridade como depositária das verdades do eu. Atribuir suas dificuldades ou as de seus filhos ao TDAH é um exemplo desse tipo de recurso.
Publicado em abril 2018.
Um discurso psicopedagógico para o “fenômeno do TDAH” – Maria Luiza Leão e Anne Marie Bouyer
R$0,00
Trecho
Nós do Tekoa, equipe de um centro de investigação e atuação na área da psicopedagogia, nos demos a tarefa de construir um discurso psicopedagógico para instrumentalizar uma reflexão relativa ao “fenômeno atual do TDAH”. Tal fenômeno tem sido identificado pelo psiquiatra infantil Dr Rossano Cabral Lima [na ocasião Mestre e agora Doutor em Saúde Coletiva do Instituto de Medicina Social da Uerj] como uma “epidemia” que observamos no Brasil e com maior intensidade ainda nos EUA. Pelo que temos notícias, o fenômeno TDAH não tem ocorrido com tal relevância na Europa. Por que será?
Autoria
Maria Luiza Oliveira Castro de Leão é Doutora em Ciências da Educação Paris V Sorbonne. Psicopedagoga, Professora, Pesquisadora e Diretora do Tekoa. Autora do livro O Pensamento Teórico do Tekoa. Rio de Janeiro. Publit.2013.
Anne Marie Bouyer é graduada em Psicologia, com especialização em psicopedagogia clínica e psicanálise. Possui formação em massagem biodinâmica e análise psico-orgânica. Palestrante na área de Estresse, facilitadora em dinâmicas de grupo. Atua na área de treinamento e desenvolvimento humano, bem como atendimento clínico como psicóloga, psicopedagoga e em orientação profissional.